Vinte e Alguma Coisa

Amor não é a resposta, trabalho também não é.... A verdade é tão incompreensível que dói... Mas eu continuo me divertindo e acho que essa é a chave.. Tenho vinte e poucos e continuarei sendo a mesma coisa....

O porquê no post Fazer o que se gosta....

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Foi um domingo daqueles onde se levanta primeiro que o sol, se arruma como dá e sai. Faz uma daquela viagens de ônibus onde tanto faz ouvir música ou ler Dan Brown, desce em seu destino pensando no porquê já está de pé aquela hora.  Caminha preguiçosamente contra o vento, morrendo de dó da mãe que lhe acompanha  aquela hora. Segue caminhando até achar um lugar onde o sol mostre, ainda que timidamente, alguns dos seus raios, se despede da mãe e vai para o prédio onde está indicado no cartão de inscrição. Sobe para a sala já sabendo que vai encontrar uma colega de faculdade e terá que jogar conversa fora logo às sete da manhã de um domingo gelado. Procura a sala, ainda que contrariada, deseja bom dia para o moço (ou era moça?) que estava na porta. Sorri quando lhe indica seu lugar. Joga uma dose de conversa fora com a colega, ajeita o material na carteira e aguarda.

Quando distribuem o caderno de provas, continua pensando no drama que faz da sua vida: não anda com paciência para os problemas familiares, anda desaminada com os estudos e, principalmente, com a sua crescente desilusão com trabalho e profissão. Assim que vira a capa do caderno esbarra com o título do texto. Já sente a pulga encostanto atrás da orelha. Enquanto corre os olhos pelas linhas vai crescendo a sensação de que aquilo ali estava escrito para ela. Quando termina a leitura sente os cinco dedos do tapa "virtual" que levou na cara. O ardor não lhe deixaria continuar a responder calmamente as questões e ela também não possuía nada para esvaziar a mente que já não parava de pensar no assunto.

Se viu refletida no parte dos insatisfeitos que querem trabalhar com o que gostam. Adoraria morar em uma cabana nas montanhas, levantar as seis da manhã, fazer uma xícara de café e passar o dia escrevendo. E, até mesmo, acredita que se o autor lhe pedisse para que ela deixasse as meias e os sapatos com ele, deixaria. Mas o que mais lhe chamou atenção foi a parte do "precisa ser feito".
E foi essa a primeira visão que decidiu levar para seu cotidiano. Ela agora vai continuar levantando as cinco da manhã, longe das montanhas, tomando seu café só as sete, mas tentando sempre pensar que tem alguém que está dependendo do seu trabalho. Mentalizando que alguém vai ficar feliz em receber aquela versão mais redondinha, sem erros, e poder utiliza-la tranquilamente.

A parte do perfeccionismo já era sua companheira. Ela ainda não encontrou aquele reconhecimento citado mas também não desistiu de continuar correndo atrás. Vai que o reconhecimento está ali na esquina? O jeito é continuar caminhado.

E assim, mesmo naquele domingo frio, mesmo que a prova não lhe traga bons resultados, ela conseguiu extrair dela uma ótima experiência. A sacudida lhe deu um fiozinho de esperança. E foi com essa esperança que respondeu as questões, com essa esperança que abraçou a mãe no final da prova e ainda é com ela que está vivendo essa semana.


"Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão
Na oração
Deus tudo vê e Deus dará"
 Sorriso nos Lábios do Gonzaguinha

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e a copa?

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Sim senhores, ela já se instalou por aqui. Dessa vez é diferente, não se vê decoração nas ruas. Não há ninguém adquirindo produtos em verde-amarelo. Quase não se há expectativa nos rostos das pessoas. E logo agora, na "nossa" copa, a copa brasileira, a copa onde podemos (será?) sermos campeões em casa...

Ainda há aquela intolerância que veio lá de junho passado, daquela copa das confederações. Aquela da "Revolta dos Vinte Centavos", lembra? Pois é, tudo que vemos é indiferença e insatisfação. Insatisfação com o que mesmo? Estamos contra copa?

Se não estamos contra, estamos mesmo insatisfeitos. Basta abrir a porta de casa para encontrar uma das obras não terminadas para atender a copa. O Trânsito, que nunca foi bom, está impossível por causa das obras e das manifestações (sim, senhores, os protestos já voltaram para as ruas). Fora que nem é preciso ressaltar mais uma vez que nosso dinheiro estaria melhor empregado na saúde, já que nosso sistema público tá doente a séculos, ou na educação, onde somos analfabetos funcionais...Mas estamos aí com estádios novíssimos em estados em que os times não chegam nem a primeira divisão do futebol. Justificada nossa insatisfação.

Enquanto isso nossa seleção, já concentrada e invadindo todos os noticiários, está trabalhando.Disse o nosso técnico que a copa fora dos campos não é problema deles. E o seu lado cidadão, sr. Felipão?

Ela, que se encontrou na definição do escritor Antônio Prata, "Meio intelectual, meio de esquerda", tenta se posicionar para saber qual bandeira vai levantar. Claro que apoia os protestos, os brasileiros merecem uma vida melhor. Por outro lado, não tira da cabeça a pergunta que seu instrutor lhe fez na época dos protestos da copa das confederações: "Você iria brigar com seu marido no meio da rua por problemas pessoais seus? Com o mundo todo vendo?" Porque querendo ou não é o que estamos fazendo. Gritando pros quatro cantos que somo um país "mal acabado", tentando resolver nossos problemas no grito e,  sim, todo mundo está vendo. Mas dá para esperar a visita ir embora? Engolir sapos é indigesto. Por outro lado,sente falta daquela euforia de vestir a amarelinha, de ver as ruas pintadas, de comentar sobre os jogos, de colecionar as tabelas dos jogos do mundial...

Por essas e outras já tirou lá do armário a blusa preta dos protestos e a canarinho (só que a sua é da azul), mesmo não sabendo qual vai vestir. E espera que o Brasil ganhe nas duas: o título e (quem sabe?) verbas para saúde, educação e outros problemas sociais ou não que nos atingem.Afinal, já vimos que o dinheiro existe, só falta fazer bom uso dele.

É senhores, como se não bastasse a copa, esse ano ainda teremos eleições.


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Fazer o que se gosta

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"Se você não gosta de seu trabalho,
tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor
em sua área, destaque-se pela precisão"


A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.

Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia.
Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?
Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.
É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça.
As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.
O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.
Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam".
Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.
Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.
Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.
Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.
Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.
Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.
Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard
(www.kanitz.com.br)
Retirado de: http://veja.abril.com.br/241104/ponto_de_vista.html

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