dia dos namorados?

Acorda se sentindo uma das mais miseráveis criaturas: o fim de senama acabou. Isso, como o esperado não a trouxe alívio, respirar ainda é complicado. Com olhos marejados, segue para o chuveiro com esperanças de que a água lavasse parte da minha alma. Esperança desperdiçada, sai de lá com mais escuridão do que quando  entrou.

O pacote ainda está lá, olhar para ele traz a sensação de que meu coração está sendo fatiado, em finas camadas com navalhas muito afiadas, que desfiam a carne e derramam sangue. Preciso, pensa, tomar uma atitude em relação ao pacote: presente que voltará para a loja. Lembro da venderora dizendo ao final da compra:  "Troca é de até 30 dias com a nota". E a tola ainda achou que não iria precisar guardar  a nota. Ainda bem que guardei, conclui.

Toma café, como pão, mecânicamente, a boca tem gosto de sague. Ainda pensa nos fatos de sábado, nos fatos de domingo, e  em todos os outros momentos doloridos, que nessas horas de dor, fluem à mente como se fosse o ar disponível para respirar. Continuar?  

Sai de casa pensando se vale a pena levantar os motivos para continuar, mas só consegue pensar nos momentos de decepção. Pega o ônibus desistindo da lista, pega os fones e como uma sincronia, a rádio toca a letra do poeta:

"Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água..."