Aquilo quando se perde aquela coisa
No último agosto ela perdeu seu
emprego. Foi em uma tarde de sexta-feira, como sempre é, no final do
dia. Foi chamada em uma reunião e a mocinha do RH lhe deu a notícia.
A mocinha disse também que a sua chefe iria lhe dar mais detalhes.
Esta só lhe disse que achava que ela deveria brigar mais pelo seu
ponto de vista, que naquela nova equipe ela não conseguiu se
encaixar, não tinha o perfil para continuar lá. Meio desnorteada,
ela subiu, juntou suas coisas, disse rapidamente um adeus para os
colegas de trabalho e foi para rua. Não lembra ao certo como chegou
em casa, só lembra de muito choro e uma revolta que crescia cada vez
mais a cada lágrima derramada: Porque ela não abrira a alma e não
contara tudo que achava que realmente acontecia naquela equipe? Ah
sim, ela achava que não valeria a pena. Já não era mais tão
inocente assim para acreditar que poderia ajudar a iniciar uma
mudança para os colegas que ficaram por lá. Então não disse nada,
só assinou seus papeis e seguiu para casa.
Daí foi uma semana inteira sem saber o
que fazer. Não que ela já saiba. Ainda continua dois meses depois
sem ter a mínima noção do que fazer com a sua vida. Não sente nem
mesmo a liberdade de poder fazer qualquer coisa que sempre quis fazer
por que não houve "a coisa", ainda é qualquer coisa. E
assim, meio perdia ela segue. Procura emprego na mesma área, só que
no seu íntimo está insegura demais para encontrar. Sempre pensa no
que dirá para um provável entrevistador na hora da clássica pergunta: “Por que você saiu do último emprego?”. Pensa em
dizer só disseram que ela não se encaixava mais na equipe, já que
trocaram até mesmo a gerente. Pensa também em dizer que iria se
mudar para outro estado e concordaram em demiti-la. Mas ela quer
mesmo é dizer que ainda não entendeu o porque. Que sabe que
houveram falhas da parte dela bem como houveram falhas das outras
partes envolvidas. Pensa em dizer que não podem pedir a cabeça de
uma pessoa só pela qualidade de um software, ainda que esta pessoa
seja a tester envolvida. Pensa em dizer que desde de seu processo
seletivo lá as coisas foram tão estranhas que nada lá funcionou e
exemplificar que fez todo o processo para atuar em uma equipe e
entrou em outra. Pensa em contar que um software construído a 16
anos atrás não pode mesmo ser remendado sem que explodam mil
problemas. Quer também dizer que aprendeu que deve sempre exigir um
documento para cada "fulano disse que é assim" e um outro
para cada "essa versão tem que ir hoje" para lhe garantir
uma defesa, quer dizer que aprendeu que o Scrum continua sendo usado
para encobrir um processo de desenvolvimento de software em cascata.
Quer comentar que aprendeu a guardar evidências de que suas tarefas
foram executadas. Quer ressaltar que aprendeu que não adianta bater
o pé para quase nada mesmo quando lhe pediram para ser exigente,
pois um dos grandes vai dizer "isso sai desse jeito e depois a
gente arruma". Quer dizer que não vale a pena ficar mais nem um
minuto depois do expediente. Mas acima de tudo, que dizer que
aprendeu como uma empresa não deve funcionar. Só que ela ainda não
sabe se encontrará pessoas maduras o suficiente para ouvir todas as
suas conclusões.
Talvez bem lá no fundo de sua alma,
ela anseie por um novo destino, uma nova carreira... Mesmo que ela
não tenha mesmo a menor ideia de por onde iniciá-la. Mas a vida
segue, e querendo ou não, ela segue com a dela.
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3 comentários :
Seguimos todos!
Ir em frente é o caminho :D
Siga! O pior parece que já passou. Já deu para perceber que ela já está a arrumar as ideias e não tarda vai aparecer uma luz. Você vai ver. :)
E o mais certo é aparecerem mais que uma luz ao mesmo tempo e aí ela vai ficar com outro problema para resolver. Eu sei do que falo. :)
Como vocês dois falaram, vou caminhando, quando vierem novidades, conto por aqui =)
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